Desalento
Feliz daquele que no livro dalma
Não tem folhas escritas,
E nem saudade amarga, arrependida,
Nem lágrimas malditas!
Feliz daquele que de um anjo as tranças
Não respirou sequer
E nem bebeu eflúvios descorando
Numa voz de mulher!
E não sentiu-lhe a mão cheirosa e branca
Perdida em seus cabelos,
Nem resvalou do sonho deleitoso
A reais pesadelos!
Quem nunca te beijou, flor dos amores,
Flor do meu coração,
E não pediu frescor, febril e insano,
Da noite à viração!
Ah! Feliz quem dormiu no colo ardente
Da huri dos amores,
Que sôfrego bebeu o orvalho santo
Das perfumadas flores. (...) Que me resta, meu Deus?! Aos meus suspiros
Nem geme a viração,
E dentro - no deserto do meu peito
Não dorme o coração!
(Álvares de Azevedo)
quarta-feira, 28 de julho de 2010
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