SEJA BEM-VINDO

Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena,
Acreditar nos sonhos que se tem,
Ou que seus planos nunca vão dar certo,
Ou que você nunca vai ser alguém...
(MAIS UMA VEZ-LEGIÃO URBANA)

terça-feira, 21 de maio de 2013

‘Amor à Vida’ começa com avalanche de acontecimentos e o gay mais malvado de todos os tempos

Sem Tatá Werneck nem pingo algum de comédia, primeiro capítulo da trama de Walcyr Carrasco se encharca de melodrama tradicional e esquemático para contar a saga de Paloma e Félix, a mocinha adotada e o irmão que guarda apenas a sexualidade no armário, porque a maldade ele destila em doses altas

Personagem Nicole (Marina Ruy Barbosa), na nova novela das nove, 'Amor à Vida'
Personagem Nicole (Marina Ruy Barbosa), na nova novela das nove, 'Amor à Vida' - Divulgação
Esse até Daniela Mercury há de reprovar. Se não tiver beijo gay, tema que já perturba o autor Walcyr Carrasco, Amor à Vida terá o gay mais maléfico de todos os tempos. Félix, o enrustido que quer a herança do pai só para ele, foi um poço de veneno no capítulo de estreia da novela que deve fazer o público esquecer a inesquecível Salve Jorge. E, apesar do esquematismo que delineia com clareza os bons e os maus na nova trama das nove da Globo, foi também o ponto inovador dentro de um melodrama batido. A velha história do irmão mau que disputa com o irmão bom o amor e o dinheiro dos pais é atualizada, ao menos em parte, com a entrada em cena de um personagem que guarda a sexualidade no armário e destila em doses alopáticas a sua maldade, em ótima interpretação de Mateus Solano.
LEIA TAMBÉM: Beijo gay e ‘Salve Jorge’ viram bicões na festa de ‘Amor à Vida’'Amor à Vida' estreia com Ibope de 'Salve Jorge'
Foi o malvado Félix quem orquestrou os movimentos do capítulo – e como ele se moveu: com uma avalanche de acontecimentos em cerca de uma hora e meia de duração, foi uma das estreias de novela mais longas e velozes dos últimos anos. Foi o vilão enrustido quem entregou à irmã, sabe-se lá porque vinte anos depois, que ela era adotada. “Eu era uma criança quando a demônia chegou”, disse pouco antes à mulher, Edith (Bárbara Paz), mostrando todo o seu afeto. “E meu pai sempre fica do lado dela e não do meu, e eu faço tudo por ele, até me casei com você.” Animada com a declaração de amor de Félix, Edith tem uma noite de sexo forte com o maridão – para um gay enrustido, até que esse tem pegada.
MAIS: Walcyr Carrasco toma as dores de Gloria Perez em festa de 'Amor à Vida'
Abalada, Paloma (Paola Oliveira) foge da família com um cara que acabou de conhecer em Machu Picchu, para onde fez pais, irmão e cunhada acompanhá-la para comemorar a entrada na faculdade de medicina – a terceira da mocinha instável e sonhadora. O cara que ela conheceu nas ruínas incas é Ninho (Juliano Cazarré em outra grande atuação), com quem viaja até a Bolívia, onde, depois de descobrir que estava grávida, resolve voltar ao Brasil. Ninho se mexe para pagar as passagens: arruma uma encomenda com a maluca Alejandra (Maria Maya), uma boliviana hippie que é filha da dona de uma confecção em São Paulo e que trafica drogas para engrossar a mesada. Uma personagem que pode ser interessante.
Antes de voltar ao Brasil, vale mencionar um grande avanço em relação a Salve Jorge: no Peru e na Bolívia de Amor à Vida, os nativos falam castelhano. Ufa.
PERFIL: Com ‘Amor à Vida’, Walcyr Carrasco enfrenta a prova das 9
Ninho é preso no aeroporto boliviano e, ao chegar sozinha em São Paulo, a quem Paloma recorre? A Félix, claro. E lá vai ele movimentar tudo de novo: reinsere a irmã em casa, fazendo-a omitir a gravidez e o namorado preso aos pais médicos (Antonio Fagundes e Susana Vieira, que só percebem o barrigão quando ela já está saindo com a mala na mão). A ideia é que ela possa fugir de novo e ter o filho longe dali com Ninho, que o malvadão liberta e traz da Bolívia. Félix quer Paloma longe de seu caminho de ambição e poder – original como uma bolsa de grife em barraca de camelô.
LEIA TAMBÉM: 'Salve Jorge' chega ao fim como começou: sem emocionar‘Salve Jorge’, a novela inesquecível
O plano dá errado, porém, porque o hippie parece ter tido os cabelos e a paixão cortados na prisão. Enche a cara e diz a Paloma que não queria uma vidinha ordinária, com casamento, filhos, crediário, casa e tal. Eles brigam em um bar no centro da cidade, Ninho sai irritado e Paloma passa mal. No banheiro, tem a filha com ajuda da parteira improvisada Márcia, a entrada em cena de Elizabeth Savalla.
E quem surge pouco depois, para encontrar a bebê e jogá-la numa caçamba de lixo? Félix, claro. “Nasceu... aqui. Que brega”, diz o vilão cheio de afetação, olhando em volta da porta do banheiro onde Paloma pariu e desmaiou. Ele testa a pulsação da irmã e acha que ela morreu. “E, pelo jeito, vai ser filho único.” Antes que alguém apareça, Félix vai embora com a bebê nos braços – que mais uma vez ninguém vê – e, enlouquecendo ao volante do carro com a possibilidade de que um dia ela também seja uma rival, para o veículo no meio da rua e abandona a criança em uma caçamba de lixo.

Quem está passando por ali naquela hora, ora, ora, uma dessas coincidências que só uma novela propicia, é Bruno (Malvino Salvador), que acaba de perder o filho e a mulher, Luana (Gabriela Duarte), no parto. Malvino Salvador anda pela rua forjando um soluço sincopado, natural como os cabelos da atriz Susana Vieira, quando... achou. De um confortável saco de lixo, a bebê de Paloma esperneia para o novo pai. “Deus me deu uma nova chance”, diz Bruno, para fechar com uma chave melodramática o primeiro capítulo de Amor à Vida.
Ainda é cedo para saber se a novela vai resgatar o público que fugiu da trama de Gloria Perez. Mas uma coisa é certa: se Salve Jorge foi prejudicada pela sombra de Avenida Brasil, agora Amor à Vida só tem a ganhar ao se comparar com a antecessora.

Nenhum comentário: